BibliON: literatura circense no mês das crianças
outubro de 2025
A leitura na infância é uma
ferramenta poderosa para o desenvolvimento integral das crianças. Desde os
primeiros anos de vida, o contato com os livros estimula áreas do cérebro
ligadas à atenção, memória, linguagem e raciocínio, favorecendo o desempenho
escolar futuro. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, ler para os
pequenos ajuda a minimizar comportamentos agressivos e hiperativos, além de
melhorar a qualidade do sono. A leitura também contribui para o desenvolvimento
da empatia, da criatividade e da capacidade de lidar com emoções, preparando a
criança para interações sociais mais saudáveis.
Estudos mostram que crianças
expostas à leitura desde cedo apresentam vocabulário mais rico, maior
capacidade de concentração e melhor desempenho acadêmico. A 6ª edição da
pesquisa Retratos da Leitura
no Brasil revelou que o país perdeu cerca de sete milhões de
leitores nos últimos quatro anos, o que reforça a urgência de cultivar esse
hábito desde a infância. A leitura não apenas amplia o repertório cultural e linguístico,
como também fortalece o pensamento crítico e a imaginação, habilidades
essenciais para a formação de cidadãos conscientes e preparados para os
desafios da vida.
Nesse contexto, o papel dos responsáveis
é fundamental. A leitura compartilhada cria momentos de conexão emocional,
atenção exclusiva e carinho, elementos que contribuem para o bem-estar e a
segurança emocional da criança. Além disso, ao verem os adultos envolvidos com
livros, os pequenos tendem a imitar esse comportamento, desenvolvendo o hábito
de ler de forma natural e prazerosa.
Visitar bibliotecas, escolher
obras adequadas à faixa etária e conversar sobre as histórias lidas são
estratégias eficazes para despertar o interesse das crianças. Os adultos têm a
oportunidade de formar leitores apaixonados, capazes de explorar o mundo com
curiosidade, sensibilidade e senso crítico. A leitura, quando associada ao
afeto, deixa de ser uma obrigação e se transforma em uma escolha que acompanha
a criança por toda a vida.
Para incentivar esse hábito
desde cedo, é essencial oferecer às crianças obras que despertem a curiosidade
e a imaginação. Na BibliON é possível encontrar obras que estimulam os pequenos
com a inserção de outros contextos artísticos na leitura, algumas sugestões
são: Menino Benjamin,
de Otávio Júnior, que apresenta de forma lúdica a história do primeiro palhaço
negro do Brasil; Circo de
Rua, de Paula Fábrio, que mistura fantasia e realidade em tempos de
isolamento social; e A Casa
de Circe, de Natalício Barroso, um romance juvenil que dialoga com
a mitologia grega e coloca os animais como protagonistas.
Confira os detalhes de cada
uma das obras e mergulhe com as crianças nessas leituras!
Menino Benjamin, de Otávio Júnior
Primeiro palhaço negro do Brasil, Benjamim de Oliveira foi um dos criadores do circo-teatro no país. Grande artista, deu os passos iniciais para modernizar o ofício das artes cênicas. Esquecido pelos brasileiros, sua memória passou a ser reavivada a partir dos anos 1990. Em 11 de junho de 2020, foram comemorados os 150 anos de nascimento do grande palhaço negro. Antes disso, a escola de samba Salgueiro o homenageou no carnaval do Rio de Janeiro. Como autor negro, a intenção de Otávio Jr. é mostrar e revelar seu grande legado para o circo brasileiro para os pequenos leitores num texto lúdico e em tom "circense". Não há a intenção de escrever biografias ou perfis: o propósito é incentivar a pesquisa sobre a vida e obra do "personagem", oferecendo "livros de descobertas" que deixem brechas para o leitor buscar mais informações após a leitura.
Circo de rua, de Paula Fábrio
Nada como uma crise ou uma pandemia para agitar a criatividade e reavivar a literatura. Neste Circo de rua, Octo, um cãozinho "octogenário", e sua humana de companhia, uma cativante costureira, dividem os desafios da modernidade e encontram na contação de história conforto e fruição da vida em tempos de isolamento social. A história que dá nome ao livro versa sobre uma garotinha que vivia na praça, cuja existência sofre uma radical transformação quando encontra dois artistas de rua que visitam a cidade. Palavra a palavra, desenho a desenho, o engolidor de fogo e o engolidor de espadas apresentam a magia do circo para a menina, alçando a sua imaginação para além de sua limitada realidade.
A casa de Circe, de Natalício Barroso
Romance juvenil que mistura suspense e mistério, em diálogo com personagens da mitologia grega. Uma casa ocupada por gatos é o palco de ação da história, protagonizada por um casal sem filhos que se muda para o imóvel. Acontecimentos pra lá de intrigantes perturbam a rotina dos dois, forçando-os a atuar como detetives nessa curiosa trama. Muitos, portanto, são os cães, gatos e até papagaios que se destacam nas Mil e Uma Noites, por exemplo, ou na literatura brasileira. Nenhum deles, no entanto, se compara com os que Natalício Barroso, autor de A Vida Amorosa de Marco Polo e O Leão de Ouro, retratou neste livro intitulado A Casa de Circe. Baseado na lenda grega segundo a qual uma feiticeira que morava em uma das muitas ilhas do Mediterrâneo tinha o hábito de transformar os marinheiros em animais selvagens ou domésticos, Natalício simplesmente adaptou esta lenda antiga para os tempos atuais. Transformou a ilha de Eeia, na qual morava Circe, em casa, e Circe, a feiticeira, em uma instituição comercial. Os animais, neste caso, são os personagens principais, e não os seres humanos. Agindo assim, Natalício inverte a situação. Em todos os livros nos quais os animais são inseridos, sempre são apresentados como coadjuvantes. Na Casa de Circe, os coadjuvantes são os seres humanos e não eles, os bichos. O que torna esta narrativa única, ou quase única, em seu enredo cheio de surpresas.