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Mês da Consciência Negra na BibliON

novembro de 2025
SP Leituras

O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é mais do que uma data comemorativa: é um marco de resistência, memória e afirmação da identidade negra no Brasil. A data homenageia Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo da história brasileira, símbolo da luta contra a escravidão e pela liberdade. Mas, além de lembrar o passado, o dia convida à reflexão sobre o presente e o futuro das relações raciais no país.

A luta antirracista é urgente e necessária. O racismo estrutural ainda se manifesta em diversas esferas da sociedade: na educação, no mercado de trabalho, na segurança pública, na cultura e na política. Combater essas desigualdades exige o engajamento de todos, independentemente da cor da pele. Pessoas brancas têm um papel fundamental nesse processo: reconhecer seus privilégios, escutar vozes negras, apoiar políticas de reparação e se posicionar contra práticas discriminatórias.

A conscientização é o primeiro passo para a transformação. Conhecer a história, entender os mecanismos do racismo e refletir sobre os próprios comportamentos são atitudes que contribuem para uma sociedade mais justa e igualitária. A leitura é uma ferramenta poderosa nesse processo, pois amplia horizontes, provoca questionamentos e fortalece o compromisso com a mudança.

Pensando nisso, selecionamos três obras disponíveis na BibliON que ajudam a aprofundar o debate sobre raça, identidade e resistência.

Essas leituras são convites à escuta, à reflexão e à ação para a construção de um país mais justo, plural e antirracista.

 

 

Pele negra, máscaras brancas, de Frantz Fanon



Primeiro livro de Frantz Fanon, "Pele negra, máscaras brancas" é um dos textos mais influentes dos movimentos de luta antirracista desde sua publicação, em 1952. Logo de início, se apresenta como uma interpretação psicanalítica da questão negra, tendo como motivação explícita desalienar pessoas negras do complexo de inferioridade que a sociedade branca lhes incute desde a infância. Assim, descortina os mecanismos pelos quais a sociedade colonialista instaura, para além da disparidade econômica e social, a interiorização de uma inferioridade associada à cor da pele – o que o autor chama de "epidermização da inferioridade". Não se compreende a questão negra fora da relação negro-branco. Com erudição, Fanon articula conceitos da filosofia, psicanálise, psiquiatria e antropologia, e autores como Hegel, Sartre, Lacan, Freud e Aimé Cesaire (referência literária, intelectual e política que perpassa toda a obra), numa notável linguagem poética, que nos conduz a uma reflexão sobre sua relação com o tema.   Um dos principais efeitos da leitura da obra – diz o professor e pesquisador Deivison Faustino no posfácio a esta edição – é fazer leitores e leitoras se descobrirem, seja em sua vulnerabilidade e desamparo, seja angustiados sob a consciência de seus pecados, ou ainda como demônios que impõem sofrimento e dominação a outros, mesmo que a princípio se vejam como anjos. Em um momento de ampliação da luta antirracista e conscientização e incorporação de brancas e brancos a essa luta, este livro continua sendo transformador, em busca de uma sociedade realmente livre e igualitária. A edição da Ubu conta com prefácio de Grada Kilomba e posfácio do especialista em Fanon Deivison Faustino. Textos escritos especialmente para a edição da Ubu. O livro traz ainda textos do intelectual e ativista Francis Jeanson e do historiador Paul Gilroy. Tradução de Sebastião Nascimento, com colaboração de Raquel Camargo. 

  

Olhares negros Raça e representação, de Bell Hooks 


Na coletânea de ensaios críticos reunidos em Olhares negros, bell hooks interroga narrativas e discute a respeito de formas alternativas de observar a negritude, a subjetividade das pessoas negras e a branquitude. Ela foca no espectador — em especial, no modo como a experiência da negritude e das pessoas negras surge na literatura, na música, na televisão e, sobretudo, no cinema —, e seu objetivo é criar uma intervenção radical na forma como nós falamos de raça e representação. Em suas palavras, "os ensaios de Olhares negros se destinam a desafiar e inquietar, a subverter e serem disruptivos". Como podem atestar os estudantes, pesquisadores, ativistas, intelectuais e todos os outros leitores que se relacionaram com o livro desde sua primeira publicação, em 1992, é exatamente isso o que estes textos conseguem. *** Ao percorrer essa variedade de reflexões, não há como negar que Olhares negros é um livro que nasce clássico, desafiando as políticas de visibilidade e as noções de representação, levando em conta o que significou e significa o processo de colonização e de dominação nos países marcados pela pior tragédia da humanidade: a escravidão transatlântica. bell hooks reafirma sua vocação de intelectual negra feminista que, de onde vê e intervém no mundo, oferece ferramentas teóricas e práticas para reescrever a história dos dominados. Tal reescrita não terá êxito se não implodir as formas de organização do olhar que esculpiram as pessoas negras e os símbolos da negritude como objetos que se prestam à espoliação e ao consumo. Este livro é, portanto, uma referência obrigatória para os estudos visuais, as teorias da representação e do reconhecimento e os tratados sobre política global. Nas reivindicações por outras incidências do imaginário, é preciso requerer que os sentidos e os significantes asfixiados pela lógica da dominação ganhem vida e circulem socialmente como discurso, pois, como bem lembrou o psicanalista Alain Didier-Weill, "o significante não detém somente o poder de anular o sentido do código, como nos imprevistos, ele é também a pedra angular que pode ser substituída pelo rebotalho, pela escória: no lugar onde o real não teve acesso ao simbólico, jaz, prescrito, o significante, que pode voltar e recuperar aquilo que, um dia, deixou cair". — Rosane Borges, no prefácio à edição brasileira 

  

Homens pretos (não) choram, de Stefano Volp


O homem negro tem espaço para ser vulnerável? Esse homem pode chorar e existir ao mesmo tempo? Com três contos inéditos, nesta nova edição de Homens pretos (não) choram, Stefano Volp joga luz sobre as feridas, os medos e a solidão do homem, sobretudo o negro, para buscar respostas sobre uma sociedade incapaz de compreender as vulnerabilidades e sutilezas que existem para além da imagem que se constrói das pessoas. _ "Stefano Volp é uma dessas descobertas felizes que o ambiente tão desolador que pode ser a rede social me trouxe nos tempos de pandemia, quando eu colocava em dia minhas leituras. Sua busca pelo novo (e por traçar um caminho que permaneça aberto para os que hão de vir) faz dele um daqueles que tem no seu fazer a essência da frase de Albert Szent-Gyorgyi – ver o que todo mundo viu e pensar o que ninguém pensou. As palavras do Volp a respeito do mundo contidas neste livro falam melhor do que as minhas a respeito dele. Desfrute."  EMICIDA "O sucesso de Volp não é uma coincidência. Ele escancara fragilidades e faz os leitores se identificarem."  Revista Rolling Stone "Stefano Volp sabe como expor o desalinho individual propositalmente por meio da literatura a fim de uma conexão coletiva" Revista Cláudia