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Quem foi Luiz Gama?

novembro de 2021
Foto: reprodução tela (Wikipedia)

A figura de Luiz Gama é emblemática. Dono de uma história de vida fascinante, o ex-escravo nascido na Bahia se tornou um grande tribuno do júri pela defesa gratuita de escravos. Suas ações de luta pela liberdade foram legitimadas nos campos político, jornalístico e jurídico. 

O advogado, escritor, jornalista, intelectual, figura política influente e abolicionista voltou a ganhar destaque, nos últimos anos, por gerações que o conheciam apenas por nome (ou nem isso). Agora, 139 anos depois de sua morte, está em processo de resgate e revalorização por meio de pesquisas acadêmicas, livros, obras artísticas, homenagens e até um filme biográfico, o Doutor Gama.

A atualidade de Luiz Gama

Além dos dez volumes das Obras Completas de Gama, com cerca de 5 mil páginas com mais de 750 textos, dos quais mais de 600 inéditos, que estão sendo lançados pela editora Hedra – saíram agora os dois primeiros, Democracia (1866-1869) e Liberdade (1880-1882) -, outro aspecto valioso, mas pouco conhecido, do legado de Luiz Gama está na coletânea Lições de Resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro (Edições Sesc), organizada por Ligia Fonseca Ferreira (Unifesp), especialista na obra do autor. A obra traz 61 artigos de reconhecida autoria de Luiz Gama, sendo 42 deles inéditos, publicados em importantes órgãos da imprensa paulista e carioca entre 1864 e 1882. O livro dá continuidade a outra publicação da professora: em 2011 ela organizou Com a Palavra, Luiz Gama — Poemas, artigos, cartas, máximas.

A leitura de seus escritos é de surpreendente atualidade. Ele escreveu artigos até seus últimos dias, razão pela qual, poucos depois de morrer, foi saudado como um ‘trabalhador incansável do jornalismo’, destaca Ligia Fonseca Ferreira. Em 2018, Luiz Gama foi reconhecido como jornalista pelo Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e homenageado com o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.  

O reconhecimento não parou por aí: em 2018, a Lei nº 13.629 declarou Luiz Gama como o patrono da abolição da escravidão do Brasil; na mesma data, a Lei nº 13.628 o inscreveu no Livro dos Heróis da Pátria. Em 2015, ele recebeu da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) -133 anos após a sua morte - o título de advogado e, neste ano, a USP lhe concedeu o título de doutor honoris causa póstumo. 

A obra de Luiz Gama reflete o pensamento e a visão social e política sob a perspectiva singular de um homem negro de grande audiência e influência em sua época e se marca por uma surpreendente atualidade. Os temas dialogam com os dilemas que nos afetam no plano pessoal e coletivo, nacional e internacional, além de se fazer eco aos anseios antirracistas contemporâneos.